quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Happy Birthday, 'Hitch'!

Na última sexta feira, 13 de Agosto, Alfred Hitchcock completaria 111 anos. Além disso, já se vão 50 anos de “Psicose”, o clássico dirigido pelo mesmo e estrelado por Janet Leigh e Anthony Perkins.


Eu, particularmente, sou um fã de ‘Hitch’. Gosto muito daquela fase de 54 a 63. Em que se atropelam obras-primas como “Janela Indiscreta”, “Vertigo”, “Intriga Internacional”, “Psicose”, “Os Pássaros” e “Marnie”.

Sem contar os filmes menores e diferentes dessas obras tão consagradas, como a comédia de erros e humor negro “O Terceiro Tiro” ou os ‘confinados’ “Festim Diabólico” e “Disque M para matar”, que se passam quase que integralmente em um único espaço físico (e diversos meta-físicos).

Hitchcock tinha essa habilidade impressionante de DIREÇÃO.

Era o diretor por excelência, conseguiu fazer com que esse dois filmes que aparentemente podem ser interpretados como teatro filmado tivessem aspecto cinematográfico. Em ambos ele se absteve de uma interferência no roteiro e simplesmente filmou. E como filmou...



O que também me admira é a universalidade de Hithcock.

O diretor fazia filmes para as massas em Hollywood e nos “Cahiers du Cinéma” era analisado por Éric Rohmer que comparava seu cinema à filosofia de Platão e à ‘Crítica da Razão Pura’ do também filósofo Immanuel Kant.

E me parece perfeitamente aceitável que transite tanto no lado intelectual quanto no do puro entretenimento. Porque Hitchcock é isso; é tomar sustos e se deixar levar por trilhas alucinantes de Bernard Herrman, mergulhar nos enredos e histórias doentias e na ‘mise-em-scène’ do mestre do suspense. Mas, simultaneamente, atestar o quanto ele contribuiu para o cinema e quanta filosofia, psicologia, e outros temas exalam de suas películas.

É tempo de medo, arrepios e apreensão.

É tempo de ver Cary Grant sendo perseguido por um Avião, Janet Leigh sendo esfaqueada durante um banho purificante e Tippi Hedren sendo atordoada por corvos.

Viva Alfred Hitchcock.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O "Vício Frenético" de Herzog

O filme (“Vício Frenético”) já foi lançado faz um tempo, mas talvez tenha passado batido para muitos cinéfilos. Estrelado pelo veterano Nicolas Cage e a bela Eva Mendes, o último longo do mestre alemão Werner Herzog, chegou ao cinema sob sérias contestações.
O longa é refilmagem de um mesmo “Vício Frenético” dirigido pelo norte-americano Abel Ferrara. No festival de Cannes de 2009, jornalistas perguntavam a Herzog o porquê da refilmagem e, portanto, de como o filme era similar ao de Ferrara (além do título). O cineasta alemão demorou a confessar a refilmagem e chegou a trocar farpas com Abel por meio de depoimentos grosseiros.

Polêmicas a parte, cinéfilo que se preze não vai perder o filme.

Começando pelo fato de ser um longa de Herzog, o que sempre gera expectativas de um bom filme. Além da “marca” do alemão, o filme é recheado de surpresas.

No começo ele se propõe sério, ao som de um impetuoso tromepete, constrói-se cenas de estilo noir com grande seriedade. Porém, seriedade que se confunde com gozação e ironias ao decorrer da trama.

A história trata de um policial, Terrence McDonough vivido por Cage, que se corrompe ao longo de uma carreira vitoriosa na academia de polícia, com prêmios e condecorações. Porém, a carreira é pontuada por vícios, como drogas e apostas, e é infringindo a lei que o tenente termina capitão ao longo do filme.

Eva Mendes atua como a prostituta que namora Terrence. Sensual como sempre, Eva atinge um nível de qualidade considerável, uma atuação muito além de suas outras aparições, como por exemplo na comédia romântica Hitch, estrelada por Will Smith.

Porém quem rouba a cena mesmo é Nicolas Cage. Nicolas encarna um policial amoral com freqüentes alucinações causadas pelo crack, de forma caricata, o que acaba arrancando diversas risadas do expectador ao longo da película . Além da comicidade, o ator mostra muita seriedade ao dar o tom melancólico e desconcertante de seu personagem. Basta reparar nos ombros desalinhados que perduram por boa parte do filme, como forma de representar no personagem o desequilíbrio da sociedade em relação a valores morais, para se certificar que a atual aparência de Cage, desfigurado com bochechas preenchidas por botox, veio a contribuir para a atuação, tornando-o ideal para o papel. Coincidentemente, um dos grandes papéis intrepretados por Cage, foi o de H.I. McDonnough (que possui praticamente o mesmo sobrenome de Terrence e conduta mora similar a do policial), do filme dos irmão Coen “Arizona Nunca Mais” (1987), representando o bandido que é sempre preso e liberado e que acaba se apaixonando por uma policial devido ao contanto constante entre os dois, proporcionado por suas reincidências na ficha criminal.

O filme é rodado em New Orleans em estado pós Katrina, o que reforça o peso da trama e da crítica do filme em relação a sociedade americana e seu comportamento em relação ao furacão e a eles mesmos. Essa mesma crítica a segmentos da sociedade americana é sempre presente na obra de Joel e Ethan Coen.

Porém, esse engajamento é mesclado com delírios, Herzog enche o filme de iguanas, jacarés, um cachorro labrador e uma cobra , todos com o intuito de ridicularizar e primitivizar os seres humanos. Essa mistura flerta com um abismo e torna a trama inconstante, e neste ponto é que reside o problema de “Vício Frenético”.

Herzog cria cenas de suspense que começam com câmera neo-realista, na mão, vibrante, sem cortes, perseguindo o protagonista em uma situação de tensão, e que no final da cena se resolve com piadas que no início podem causar estranhamento mas que depois, com o decorrer da narrativa, passam a fazer todo o sentido.

Portanto o espectador que comprou uma idéia de thriller policial com crítica social, vai ser surpreendido, e se aderir ao ritmo do mestre, vai se divertir sem muitas pretensões e quem sabe refletir seriamente sobre o que o roteiro propõe.